quarta-feira, 30 de abril de 2014

Dia 10: 1973 - Jacarandá (Luiz Bonfá)


O Disco de Hoje foi difícil escolher. Em homenagem ao Dia Internacional do Jazz, estou ouvindo  alguns álbuns brasileiros deste estilo desde de manhã. Já passei por Airto Moreira, Os Cobras, uma excelente coletânia chamada Bossa Jazz, Hermeto Pascoal e Eumir Deodato.

Mas daí, re-ouvi o excelente violonista Luiz Bonfá, e "Jacarandá" virou O Disco de Hoje. Para começar, todos os arranjos foram orquestrados pelo genial Eumir Deodato (que certamente aparecerá aqui em um outro dia). Conta com percurssão de Airto Moreira e baixo de ninguém menos que Stanley Clarke.

O disco já começa com a pauleira das congas, percursão e bateria ensandecidas em "Apache", uma sonzera. "Empty Room" tem a força do baixo inconfundível do Clarke, junto com o violão limpo, sonoro e cheio de "groove" do Bonfá, característico de todas as faixas do disco. "Song Thoughts", que seria ótima trilha para uma cena de perseguição em algum filme. A música que dá nome ao disco ("Jacarandá") é uma obra prima, bela e suave. E para terminar o Disco de Hoje, "Sun Flower" também é demais.

Tem que ouvir esta sonzera do começo ao fim, talvez aqui. Dá para degustar "Apache Talk" aí no iutubius.


terça-feira, 29 de abril de 2014

Dia 9: 2011 - Defenestra (Pequena Morte)


O Disco de Hoje eu ouvi em homenagem ao meu grande amigo, Zito Franco, que está de aniversário de hoje (vocalista, guitarrista e compositor). Ouvido, eleito o Disco de Hoje, por sua beleza, leveza, qualidade e alto astral.

Pequena Morte existe desde 2008 e tem um estilo muito próprio de ska, segundo eles mesmos, "abrasileirado, autoral e pouco ortodoxo". O álbum "Defenestra" conquista logo na primeira audição os arranjos limpos de guitarras, trombone, bateria, baixo e percursão. Música para pedalar, "gastar as solas do sapato", namorar ou simplesmente relaxar. Remédio infalível para a depressão de segunda-feira. Experimente colocar uma criança de menos de 4 anos para ouvir e veja o que o disco faz com ela, vai começar a pular e dançar alucinadamente.

Vale comentar a "presença de palco" dos caras, a sintonia com o público que faz com que ninguém fique parado em seus shows. Contagiante. Em Belo Horizonte, show do Pequena Morte é a certeza de uma noite festiva, gente bonita e boas vibrações.

Do Disco de Hoje, gosto de todas as faixas. Acho belíssima a "Xamorrê", bem tranquilinha e gosto muito de "C.V." que muito bem arranjada, linda poesia, com transições entre um sambinha bem gostoso e um ska animado. "Bom" também me chama a atenção, com seu pandeiro bem tocado, impossível não dançar. 

O disco completo pode ser baixado gratuitamente no site da banda: http://pequenamorte.tnb.art.br/

Degusta abaixo o videoclipe muito bacana de "Bom".


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Dia 8: 1970/2000 - Tecnicolor (Os Mutantes)


O Disco de Hoje ficou na geladeira por 30 anos, gravado em 1970, lançado em 2000, talvez aguardando que a música chegasse em seu tempo "certo". É um disco feito prá gringo, o que tem vantagens e desvantagens. Uma desvantagem, na minha opinião, é a perda de parte da riqueza poética das letras nas traduções para inglês, espanhol e francês, apesar de terem tentado manter o sentido das músicas. Só como exemplo, "Ela é minha menina" vira "Oba oba she's my shoo shoo".

Uma vantagem de ter sido feito para conquistar os mercados americano e europeu é o cuidado e limpeza dos arranjos instrumentais, bem como a inserção de mais elementos de música brasileira e bossa nova (cuícas, pianos, pandeiro) nestes arranjos, o que nas versões originais não era tão comum.

Como descrever Os Mutantes? A melhor banda brasileira de rock de todos os tempos? Um grupo brasileiro que produzia rock psicodélico pari passu ao grande Pink Floyd. Me desculpem, mas estou falando dOs Mutantes de 1966 até 1973, com Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, não das outras criações posteriores, que conheço pouco.

O disco é todo de regravações traduzidas de músicas de outros discos da banda, com exceção da música que dá nome ao disco ("Technicolor") que não aparece em nenhum outro trabalho. Esta é excelente e empolgante. Me chama atenção também esta versão da "Bat Macumba", que vai sendo desconstruído sílaba por sílaba, até virar Bah, passando por Batman, depois construído gradualmente novamente. Além disto, tem alguns dos grandes sucessos da banda, como "I feel a little spaced out" ("Ando meio desligado"), "Baby" (linda, leve e solta), "I'm sorry Baby" ("Desculpe Baby") e a pesadassa "Saravá".

Bom, se você acha que sabe alguma coisa de música brasileira e não conhece Os Mutantes, "you know nothing John Snow".

Ouve aí.


domingo, 27 de abril de 2014

Dia 7: 2010 - 4 Loas (Marku Ribas)


O Disco de Hoje vem de Minas, porque é bão dimais e já faz um tempão (quase 6 dias) que eu não coloco aqui um disco da terrinha. Apesar de você provavelmente não conhecer, o Marku Ribas tem uma longa trajetória, com seu primeiro disco por volta de 1973 e gravações com grandes nomes como Mick Jagger, Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Tim Maia e muitos outros. Ele já apareceu aqui no Disco do Dia 4.

Me lembro de um show que fui dele em um comício do Lula, em 1989, nos saudosos tempos em que os músicos não eram contratados para shows em comícios, e sim tocavam por acreditar na causa (nos saudosos tempos que partidos tinham "causa"). Se eu não me engano, ele inclusive ficou lá em casa.

Para mim, 4 Loas, que é seu último álbum, é sua obra-prima. Como definir este disco? Samba rock? Jazz? Reggae? Na verdade acho que a melhor definição é black music. Negro, de corpo, alma e som, nunca se limitou ao enquadramento dos estilos musicais. Voz poderosa e marcante, ótimo compositor, com influências do rock, samba, ritmos africanos, soul, congado e um montão de outras coisas. Morreu em 2013 sem grande reconhecimento, quase anônimo fora do círculo musical de Minas Gerais.

O disco é excelente, do começo ao fim, vibrante, empolgante e dançante. "Altas Horas" é uma mistura de samba e bossa, muito prá cima, guitarras limpas e lindas, sopros, do bom e do melhor. "Bervely Help" é rock'n'roll todo quebrado. Um dos pontos altos do disco é "O Mar Não Tem Cabelo", com um baixo marcante, bateria, sopros, guitarras integradas em ritmo que vem da alma com uma letra muito legal:"eu sei que é duro amar alguém que não ama você, pior ainda é não ter mais um amor prá se esquecer". Duvido que você escute sem se balançar.

Este eu não encontrei completo no youtube, mas dá uma degustada aí em uma música. Tenho certeza de que você leitor é espertinho o bastante para encontrar o disco completo para abaixar, quem sabe aqui?


sábado, 26 de abril de 2014

Dia 6: 2013 - Antes que tu conte outra (Apanhador Só)



O Disco de Hoje concorreu em 5 categorias no Prêmio Açorianos de Música (um dos concursos mais importantes do Rio Grande do Sul) e levou 2, melhor intérprete e melhor album pop(?). Além destes, concorreu a um montão de prêmios e ganhou alguns no ano passado, como o de melhor disco de 2013 segundo a Associação Paulista de Críticos de Artes.


Apesar destas premiações serem muito bacanas como reconhecimento do trabalho dos artistas, isso não tem muita importância aqui no Disco do Dia, aqui o que vale é a cativação e conquista do ouvinte. E este disco me conquistou antes mesmo de começar a ser feito. Ele foi produzido através do financiamento coletivo (crowdfunding) e centenas pessoas contribuíram com valores que davam o direito a recompensas que iam desde bottons, camisetas e CDs até serenatas ou shows da banda. Isto é muito bacana, pois possibilita o trabalho artistas independentes e gera uma sensação de pertencimento aos ouvintes, a ideia de que "participei da construção deste disco".


Me conquistou também antes de ouvir, ao resgatar a minha recompensa (CD), ao ver o cuidadoso, criativo e lindo trabalho gráfico das capas, encartes e disco (mereciam ganhar também na categoria Melhor Projeto Gráfico).


Confesso que na primeira vez que ouvi o disco, achei meio "estranho", senti falta daquelas músicas bunitinhas do primeiro disco da banda, de 2010. Esta impressão passou logo na segunda vez, com os ouvidos já acostumados aos sons e poesia deste album.

A faixa "Vitta, Ian e Cassales", que parece ser várias músicas em uma só: as variações de ritmo, instrumentos e tema ao longo da mesma música são surpreendentemente boas. "Despirocar", pesadassa, vale a pena ouvir e ver o excelente videoclip . "Líquido Preto", composição em parceria com o grande amigo Rafa Vitta, é divertida, uma brincadeira com bastante sarcasmo sobre o tubo preto do imperialismo. "Torcicolo" acho que só pode ser compreendida pelos jovens viventes do RS, que passam pelos perrengues das variações sazonais de temperatura da região. Destaque também para a beleza poética e musical de "Reinação" e "Cartão Postal". Esta última fecha o album com chave de ouro, com certa melancolia e uma passagem que eu adoro: "(...) que as pernas do meu lado vão envelhecer, os sapatos que elas vestem vão perder o verniz, a carne dura menos que qualquer madeira..."

O disco pode ser baixado gratuitamente no site dos caras (www.apanhadorso.com). Se tiver a oportunidade, não deixe de comprar o disco, pois o encarte vale a pena e os caras merecem a sua contribuição.

Vida longa ao Apanhador Só!


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Dia 5: 1996 - Afrociberdelia (Chico Science e Nação Zumbi)

O Disco de Hoje é foda. Recém re-lançado em vinil 180 gramas, emoção diferente. Sopros, tambores de maracatu, berimbaus, guitarras distorcidas e baixo poderoso do começo ao fim, tudo isso junto com a voz única e poesias enxarcadas de lama de mangue do Chico Science. 

Este disco deve ser ouvido para aumentar a sua velocidade média em uma corrida ou pedalada, para alguma festa bem dançante ou para levantar o seu ânimo na manhã de segunda-feira, de preferência bem alto.

Do Chico Science eu só posso dizer que morreu cedo demais e só teve tempo de lançar dois discos: "Da lama ao caos" (1994) e Afrociberdelia (1996). Em compensação, deixou algum material gravado, o que possibilitou o lançamento de um disco póstumo (CSNZ) e um legado mais importante, que foi o estilo e movimento manguebeat e a inserção de Recife no cenário musical brasileiro, o que vem rendendo frutos até hoje. Otto, Nação Zumbi (que segue fazendo ótima música, mesmo sem o Chico) e Mundo Livre S/A são alguns dos frutos deste movimento.

Na minha humilde opinião, depois da grande produtividade do (pop)rock nacional dos anos 80 (muitas bandas, nada de muito novo), o Nação Zumbi veio no início dos anos 90 injetar sangue novo no rock nacional, criando um estilo musical sem precedentes. E olha que é difícil criar algo novo, depois de tudo que foi lançado na música mundial.

Taí um disco que eu não vou conseguir descrever, só ouvindo mesmo. Chamo atenção para "Maracatu Atômico", regravação da música de Jorge Mautner de 1974 e "Quilombo Groove", instrumental de arrepiar.

"Deixar que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer" é a frase de transição para o início de "Sobremesa", que tem marcação forte de tambores e o baixão dominando. "Baião Ambiental" é ótimo para dançar um forró a dois. E "Sangue de Bairro" é tão pesado que dá medo: "quando degolaram minha cabeça passei mais de 2 minutos vendo meu corpo tremendo, e não sabia o que fazer, morrer, viver." "Criança de Domingo" alivia depois desta pressão.


Se não conhece, prepare-se para o novo. Se já conhece, re-ouve.


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Dia 4: 2005 - Bambas e Biritas Vol. 1 (Bid)





O Disco de Hoje é uma reunião de 56 músicos, organizados pelo BiD, com gravações feitas ao longo de pelo menos 8 anos, pois tem participação até do Chico Science, que morreu em 1997.

O cara é o Eduardo Bidlovski, conhecido como BiD, um ilustre desconhecido, como a maioria dos produtores. Ele esteve por trás na produção e gravação de discos do Chico Science, Arnaldo Antunes, Marcelo D2, Mundo Livre S/A e Otto. Além de produtor, é músico, compositor, um dos membros fundadores da big-band "Funk como Le Gusta" e integra a banda base deste disco, junto com Carlos Daffé.

O disco começa com a contagiante "Não Pára", que gruda na cabeça de uma forma impressionante. "Na noite se resolve", com a participação do Black Alien, é um rap bem misturado, estilo que segue na próxima música ("Maestro do canão") e que não faz a minha cabeça.

Para mim, o ponto alto do disco começa com "E depois", música deliciosa cantada pelo desafinado Seu Jorge ("as mina pira"), realmente dá vontade de ir para o "depois". Esta música é emendada por "Fora do horário comercial", com a voz de trovão do Marku Ribas, mineiro que morreu neste ano em um semi-anonimato, depois de 40 anos de carreira.. Para fechar a sequência com chave de outro, temos a Elza Soares, com sua voz rouca de arrepiar, em "Mandingueira". Só estas três músicas já merecem transformar este álbum no Disco do Dia.

Mas ainda temos "Saudades da Black Rio", que é realmente uma música criada para matar as saudades da Banda Black Rio (que um dia ainda vai estar no Disco do Dia) e "Roda Rodete Rodeano", que foi uma recuperação de uma gravação do Chico Science que nunca havia saído antes deste disco.

O disco pode ser ouvido ou baixado gratuitamente no site do cara. Lá também tem o Bambas Dois, segundo volume desta misturança do BiD, agora Brasil-Jamaica, que ainda não ouvi.

Curte aí videoclip da "Mandingueira", uma das melhores músicas do disco.


 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Dia 3: 2010 - Mafaro (André Abujamra)


O Disco de Hoje é difícil de "digerir", você provavelmente não vai gostar (até hoje não consegui fazer minha companheira gostar). Sempre brinquei que é muito mais fácil gostar de um sertanejo qualquer do que de Hermeto Pascoal. O sertanejo se parece com o que nos é bombardeado diariamente, você escuta uma vez e já sabe de cor, é previsível, digerível. O Hermeto você vai ter que ouvir várias vezes, mudar seu modo de ouvir, mudar o dia, o ambiente, a companhia, acostumar seu ouvido. Aí sim, com força de vontade e insistência, talvez você goste.

Voltemos ao André Abujamra, que é um cara com uma longa e multifacetada trajetória. Ator, cantor, compositor, multi-instrumentista, poeta, humorista. Era o líder da banda Karnak que fazia uma misturança entre 1992 e 2002, que vale a pena ouvir e provavelmente ainda vai ter um Disco de Hoje.

Este disco, segundo o próprio Abujamra, coloca música brasileira junto com ritmos dos bálcãs, africanos, indianos, rock e latinos que ele "absorveu como uma esponja" em suas viagens. Para mim, soa como uma orgia verborrágica e musical, com uma nova surpresa a cada música.

Começa com "Origem", música que, para mim, é ótima para pedalar, subindo a média de velocidade com o seu ritmo frenético de sopros e bateria. "Imaginação" aponta pensamentos de certo modo bizarros e é conclusivo: "o mundo de dentro da gente é maior do que o mundo de fora da gente".

"Lexotan" (com participação de Zeca Baleiro) brinca dizendo que "é mais fácil ser triste que alegre". "A pedra tem vida" é uma das minhas preferidas e tem uma poesia linda e profunda, apontando a beleza de pequenos detalhes (existentes ou não) e mostrando que a "beleza é o que está atrás do olhar", sempre com o mesmo trecho de sopros se repetindo incansável.

E o ritmo do disco vai aumentando até ficar alucinante, com exceção de "Tem luz na cauda da flecha", que é um reggae bem gostoso e um intervalo para respirar em "Logun Edé".

Depois de toda a loucura, temos um alívio em "Duvião" e a lindíssima e relaxante "Mafaro", que trazem um alívio. Este é um tipo de obra que eu gosto, que alterna entre músicas azucrinantes e aliviantes (uma fórmula comum em Arnaldo Antunes), pois depois de ser incomodado por uma música barulhenta e disforme, a música tranquila se torna ainda mais bela e apreciável.

Degusta aí!



terça-feira, 22 de abril de 2014

Dia 2: 1972 - Free (Airto Moreira)


Fazia bastante tempo que eu não escutava o Airto Moreira. Hoje eu coloquei no meu player no randômico e eis que a primeira música que toca é a "Return to forever", deste disco. Não tive opção, tive que tirar do randômico para ouvir o disco todo e fazer com este fosse O Disco de Hoje.

O Airto é um monstro e já tocou com muitos dos grandes gênios da música: Miles Davis ("Bitches Brew" e "Ilha de Wight") , Santana ("Borboleta"), Chick Corea e Stanley Clarke ("Return do Forever"), Hermeto Pascoal (no seu primeiro disco, o "Quarteto Novo"), entre outros. 

O percursionista é marido da Flora Purim, uma das grandes vozes do jazz. Se mudaram para os EUA em 1960 e o fato é que ninguém conhece o Airto e a Flora no Brasil, apesar de agora terem estragado uma de suas músicas para a usarem na Copa do Mundo.

Este disco é especial, começando pelos participantes: Flora (vocal) , Chick Corea (piano), Joe Farrel (sax), Keith Jarret (piano), Stanley Clarke (baixo), entre outros cabeções da música.

A primeira música é  uma pequena amostra (10 minutos de música) da épica "Return to Forever", que vale a pena escutar posteriormente na sua versão original e no contexto do disco "Return to Forever" do grupo homônimo, também de 1972. Depois temos "Flora Song", bem calminha, com berimbaus, muita percursão, flautas, sax... A música que da nome ao disco "Free" é bem difícil de gostar, tem que ouvir várias vezes, acostumar os ouvidos... É só percursão, um baixo de leve, e a boca do Airto, que é um instrumento de percursão único. As últimas três músicas do album do tipo jazz alegrinho, sempre com uma levada bem brasileira e cheia de percursão.

Provavelmente este não é o melhor disco para ser apresentado ao Airto, existem outros mais cativantes.
Mas é este O Disco de Hoje.




segunda-feira, 21 de abril de 2014

Dia 0: 2009 - Graveola e o Lixo Polifônico (Graveola)




O disco de hoje não é de hoje. Na verdade foi o disco de ontem (domingo ensolarado, cuidando do jardim), mas como só hoje eu decidi dedicar alguns minutos da minha vida a este blog, decidi não deixar de postar. Até porque já indiquei o Graveola a tantos amigos, que acho que eles tinham que aparecer aqui logo. Então vamos para mais um grupo mineiro.

Conheci o Graveola há uns 3 anos, não me lembro como nem porque. Só lembro que não foi indicação de nenhum amigo. Talvez em uma destas fases de busca desesperada por música brasileira boa e nova, parecida com a que estou passando agora.

Este é o primeiro disco da banda. Logo após baixar do site oficial (http://graveola.com.br/home/), antes de começar a ouvir, você vai provavelmente se assustar com o "gênero" atribuído a cada música, mostrado pelo seu programa de áudio: tem tango, rock, infantil, jazz, bolero, blues rock, balada e world music. Atualmente, com tanta mistura, penso que o enquadramento de música em gêneros é completamente dispensável. Mas, neste disco, a classificação está bem interessante, provavelmente feita pelo Graveola mesmo.

Já na primeira faixa do álbum ("Outro modo"), a voz de um dos vocalistas (José Luis Braga, o da voz mais grave) me cativa e enche de curiosidade, pois sempre tive a nítida impressão de ser uma voz conhecida de outra banda, mas ainda não consegui identificar qual.

E com poesia, múltiplos instrumentos, pedaços confundidos de outras músicas e contradições eles seguem surpreendendo, música após música. "Supra Sonho" é um sambinha muito alegre que contradiz a letra triste triste. "Amaciar dureza" é de arrepiar, letra e música. Parece que faz referência a uma música dos Secos e Molhados: "por onde passou, sentiu o seu destino/ despedaçado/ atado, vidrado, trincado, cortado/ seus vícios, seus mortos, seus caminhos tortos/ na vida, amaciar dureza/ na vida amaciar..."

"Dois lados da canção" parece brincar com Roberto Carlos ("quando eu ouço a canção/ que eu fiz prá você") e com Os Mutantes ("eu juro que é melhor/ enfim") e, com certeza, com outras canções que eu ainda não identifiquei.

Depois temos quatro músicas que parecem brincadeira, com direito a um bolero ("Benzinho"), uma releitura do pagode horroroso da barata da vizinha. E para terminar o disco, fizeram a maravilhosa  música de altos e baixos, com um espetacular solo de sax: "Cidade".

Aí vai uma degustação!



Dia 1: 1972 - Clube da Esquina (Milton Nascimento e Lô Borges)


O disco de hoje foi fácil escolher, pois foi o primeiro que ouvi, 2 LPs na vitrola enquanto preparava o café da manhã, e único até esta postagem. Mas de qualquer forma, seria o disco escolhido, pois faz parte da minha trajetória, da formação da minha "mineridade", da minha alma.

Não me lembro quando ouvi pela primeira vez. A impressão que dá é que algumas músicas dele estão impressas na minha memória desde sempre, e acredito que em grande parte dos mineiros da minha geração.

Apesar do disco ser atribuído ao Milton e Lô Borges, na verdade o album foi um "juntamento" de um monte de mineiros (irmãos Borges, Fernando Brant, Flávio Venturini, Wagner Tiso, Toninho Horta e vários outros) em uma época de efervescência musical de Minas, com uma forte influência do rock que chegava da Inglaterra. Resultou numa estranheza linda, com diversos compositores e músicas muito diferentes umas das outras.

O interessante é que eu demorei a escutar a obra completa. Conhecia a maior parte das músicas, de coletâneas do Milton Nascimento ou rádio. Mas tive uma bela surpresa quando escutei do começo ao fim pela primeira vez. O album duplo tem de tudo. Rock'n roll em "Tudo que você podia ser", "Nada será como antes" e o finalzinho de "Um girassol da cor do seu cabelo" (queria que a levada rock desta música continuasse por mais alguns minutos). Tem um samba de rasgar o coração em "Me deixa em paz", e as populares "Trem Azul" e "Paisagem da Janela" e a lindíssima "Clube da esquina n° 2" em uma versão ainda sem letra. O grupo é tão misturado que, segundo os sabichões da Wikipedia, está enquadrado em Música experimental, Jazz Fusion, Psych Folk e Rock Progressivo.

Me impressiona a modernidade do disco, que já completou seus 40 anos.

Figura entre os 10 primeiros em qualquer lista respeitável dos melhores discos brasileiros. Tem que ouvir de cabo a rabo!