domingo, 31 de maio de 2015

Dia 77: 2014 - Natália Matos (Natália Matos)


Me apaixonei pelo Disco de Hoje já na primeira música. Como é bom se apaixonar, querer ver, rever, sentir, ouvir, mais e mais e mais... E de quebra cheguei no Pará, que aparece aqui no Disco de Hoje pela primeira vez. Natália Matos abre o disco com a excelente "Cio", do Kiko Dinucci, em uma versão cheia de suingue, baixo e baterias marcantes, numa sensualidade que eu não tinha sentido na versão que eu conhecia, do Duo Moviola:
Unha no tapete
Arranhando o carinho que não há
Corpo se aninhando
Contraindo pro cio transbordar
Vermelho 
Ela está muito bem acompanhada. "Com produção de Guilherme Kastrup e participações de Zeca Baleiro, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci e Felipe Cordeiro, o disco “Natália Matos” traz canções inéditas de Dona Onete e Romulo Fróes unindo a estranheza pop de São Paulo com o suingue irresistível do Pará."

A paraense traz "Coração sangrando", da Dona Onete,  doloroso como ela só, colocando mais brega com a participação de Zeca Baleiro e  belezura com o sax único do mineiro Thiago França.

"A Flor do Segredo" é de autoria de outro paraense clássico, que eu não conhecia, o Almirzinho Gabriel, e é altamente recomendável, música, arranjos, letra e a voz da Natália...
Num segundo tu me ensinas quase tudo
Eu prometo, no próximo ponto eu desço
Eu me mudo
A gente quase combina
A flor do segredo é rimar por dentro
E tem mais um montão de coisa boa. Tem música dela, tem Arnaldo Antunes, Rômulo Froes... Dá uma ouvida aí no tubius, e se você for esperto, adquira O Disco de Hoje oficialmente e dá uma olhadinha no site da moça.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Dia 76: 2013 - O Mais Feliz da Vida (A Banda Mais Bonita da Cidade)


Não, eu não fui um dos 15 milhões de pessoas que assitiu ao vídeo viral "Oração", lançado pelos Curitibanos da "Banda Mais Bonita da Cidade" em 2011 e, portanto, só fui conhecê-los ontem. Já tinha ouvido falar, mas não me interessei em buscar... Fiquei pensando em quantas coisas a gente perde por falta de interesse, preguiça ou falta de tempo para conhecer...

O Disco de Hoje traz então o último álbum deles, chamado "O mais feliz da vida". Ok, é música alegre, bonita e fala de amor...  É piegas? Pode ser... Ser feliz não significa ser vazio, sem conteúdo. Acho que falar de amor ainda não saiu de moda, e espero que não saia. E é bonito fazer música com coisas cotidianas, como "dormir de conchinha" ou usar a chuva e o choro em um mesmo verso, falar sobre a primavera. Valorizo a beleza das coisas simples. Talvez ouvir algumas músicas que falem disso nos lembre de trazer de volta estas coisinhas nas nossas relações: carinho, atenção, ouvir, sentir.

Para mim, o ponto alto do disco é "Maré Alta", se encaixando com "Reza Para Um Querubim" letra, música e canto encantado e encantando:
Maré alta em mim
Água um dia brotará dos nós
Em nós
Vai decantar
Lágrimas que fingem que não são
Mas são
Parte da enxurrada que virá
Cheia de esquecer
Veja eles aí no Tubius, escute o disco inteiro, ou baixe O Disco de Hoje gratuitamente e oficialmente no site da Banda Mais Bonita da Cidade.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Dia 75: 1970 - Call it anything (Miles Davis)


O Disco de Hoje é homenagem ao aniversário de nascimento de Miles Davis, que hoje faria 89 anos. Mas como assim um não brasileiro aqui no Disco de Hoje? A proposta não é música brasileira? Calma pessoal, neste show inacreditável temos a participação do Airto Moreira, fazendo os sons do trompete do Miles na cuíca, ajudando a justificar o Miles aqui neste blog...

O Disco de Hoje é o show do Miles Davis no festival da Ilha de Wight, em 1970, onde se reuniram mais de 600 mil pessoas para curtir nomes como The Who, Gilberto Gil e Caetano, Emerson Lake and Palmer, The Doors, Jimi Hendrix e Jethro Tull, entre outros...

O show é na verdade uma única música de 35 minutos. Quando perguntado sobre o nome da música que tocaram, o Miles disse: "Call it Anything". Esta música faz uma incursão em vários temas do inigualável "Bitches Brew", e quando a gente tá quase entendendo, quase chegando lá, quase se iluminando, faz uma mudança brusca... É como se ele colocasse os 20 anos de carreira (que ele já tinha na época) nestes 35 minutos.

Algum músico por favor me explica o que o o Gary Bartz faz com o sax lá pelos 12 minutos da música, ele está literalmente inspirando o sax?

Se você quiser entender um pouco mais desta transição do jazz pro rock do Miles, recomendo o documentário "Miles Eletric: A different kind of blue", com depoimentos de vários que tocavam com ele na época, críticos, etc... Nesta fase, Miles Davis foi execrado pelos críticos e pela imprensa como "o maior vendido da história do jazz". Mas o caso é que ele não podia ficar imune à revolução musical da época: Hendrix, Stones, Jethro e tudo mais... O documentário termina com este show, e  depois uma homenagem de vários ao Miles (Airto, Herbie Hancock, Santanna, etc).

O Disco de Hoje eu só tenho em vinyl, então, sorry. Fique contente com o show aí no youtube ou compre na Amazon o DVD por US$ 10, o LP por US$ 17, ou o MP3 por US$ 5.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Dia 74: 2010 - Cinco Sentidos (Mateus Aleluia)


"É o ariano que ignora o africano, ou é o africano que ignora o ariano?", pergunta uma bela música do Mundo Livre SA. Na música, não tenho dúvida... Os negros criaram tudo: jazz, reggae, blues, rock, funk, soul, samba, rap, chorinho... Tudo.

O baiano Mateus Aleluia era de um grupo negro vocal chamado "Os Tincoãs", famosos nas décadas de 60 e 70. Conheci agora através do excelente Disco de Hoje, chamado "Cinco Sentidos", seu primeiro disco solo, produzido aos 66 anos. A voz de trovão do negão me lembra o mineiro Marku Ribas, que já pintou por aqui. A sua companheira neste disco, Soraia Oliveira, me lembra muito a Gal nos tempos áureos.

"Amor Cinza" é lindona demais, toca bem fundo:
Não aceito quando dizem que o fim é cinza
Se eu vejo cinza como um início em cor
Quando tudo finda, dizem, virou cinza
Equívoco pois cinza cura, poesia eu sou
Vamos celebrar, o amor há de renascer das cinzas
Vamos festejar o cinza com amor
 "Quem guiou a cega" gruda na cabeça de uma forma impressionante... Meu pequeno de 3 anos ficou cantando sem parar... "Palavra que reza" está completinha, pandeiro, cuíca, trompete, a coisa mais bunita...

Mergulha fundo, volta prás raízes de todos nós! Alimenta o africano em você...

Dá uma olhada no quanto este senhor é lindo tocando "Amor Cinza" aí no tubius ou ouça o disco inteiro ali embaixo. E não deixe de adquirir O Disco de Hoje!



sábado, 23 de maio de 2015

Dia 73: Musa Caliente (Seu Pereira e Coletivo 401)


Você acha que é impossível colocar em um EP de apenas 4 músicas reggae, carimbó, zouk, lambada,  merengue, forró nordestino, cumbia, salsa, samba-rock? Então escute O Disco de Hoje.

Ufa, consegui sair do Recife no Disco de Hoje, mas não para longe. Rumei ao norte por 120 km e cheguei à João Pessoa, com a excelente banda "Seu Pereira e Coletivo 401". Um dos integrantes, o DJ Chico Corrêa (guitarra, flauta e teclados) já tinha pintado aqui no Disco de Hoje. O vocal e maior parte das composições é de Jonathas Pereira (o Seu Pereira). 

Já gostei logo da capa do disco, em que me chamou atenção a gostosona, mulher de verdade, com suas gordurinhas, culote, celulites, não como as mulheres de comercial de cerveja... 

O videoclipe da gostosíssima "Moçambique" (que você pode ver aí embaixo no tube) me foi apresentado muito recente e foi uma porta um mundo musical até então desconhecido. Delícia de trompete e letra super interessante, depois de pensar em viajar pelo mundo, conclui:
"Penso em passar por Luanda, depois que deixar Dakar, quem vive de navegar, o vento é quem lhe comanda, mas se ela for prá varanda gritando: meu nego fique, me aquieto no colo dela, escrevo um poema pra ela, com a minha caneta bic."
O disco anterior da banda é também altamente recomendado e pode ser encontrado aqui. Pode ver uma amostrinha no clipe pesadasso de "Cabidela" ali embaixo no tubinho. E não deixe de adquirir O Disco de Hoje.


segunda-feira, 18 de maio de 2015

Dia 72: Trilha Sonora do Filme Amarelo Manga (Jorge Du Peixe e Lúcio Maia)


O Disco de Hoje continua viajando pelo Recife, agora com som e imagens. Tenho que dar um jeito de ir em pessoa, corpo e alma. Não vou falar aqui do filme Amarelo Manga, que eu tenho que re-assistir. Vamos direto para a trilha sonora. Composta por Jorge Du Peixe e Lúcio Maia (Nação Zumbi), é um disco para se ouvir do começo ao fim, com suas vinhetas, intervenções e/ou falas do filme.

Até as músicas que existem em outros disco da Nação ficam mais interessantes dentro do contexto deste álbum. Por exemplo, "Tempo Amarelo" depois de uma fala bela e suja ganha um gostinho especial. "Amarelo das doenças, das remelas dos olhos dos meninos, das feridas purulentas, dos escarros, das verminoses, das hepatites, das diarréias, dos dentes apodrecidos..."

Gosto especialmente dos sons de "Gafieira no avenida", com um contrabaixo marcante e divertido, e da música de entrada, "Defunkt", funk instrumental cheio de quebras... Especial.

Escute "Gafieira na Avenida", veja o trailer, assista o filme e adquira O Disco de Hoje.


domingo, 17 de maio de 2015

Dia 71: 2011 - Lira (José Paes Lira "Lirinha")

O Disco de Hoje me fez refletir, o que é que Recife tem? Tem Chico Science, tem Nação Zumbi, tem Mundo Livre S.A, tem Otto... Caio no erro de pensar que são apenas frutos da efevercência do manguebeat do começo dos anos 90. Com um pouco mais de cuidado, constato que uma revolução da importância do manguebeat não nasce do zero. Vamos pesquisar... O que mais Pernambuco tem? Tem Luiz Gonzaga, tem Alceu Valença, tem Geraldo Azevedo, Azulão, Bezerra da Silva, Lula Cortês, tem o Lenine, que alguns acham que surgiu do nada por volta do ano 2000, na novela da globo. O que mais? Tem Karina Buhr, tem Siba, tem Cordel do Fogo Encantado.

Recife tem algo especial, tem uma inspiração, uma dor... Tem o mangue. Tem público, tem gente pulando, gritando, dançando, sentindo a música. Pernambuco tem o sertão. Daí em quase chego lá... Pernambuco tem o maracatu, com seus sons, símbolos e sincretismo. Tento imaginar o que seria da música brasileira sem Pernambuco. A ausência deste pequeno estado causaria um rombo considerável e irreversível na música do mundo.

O Disco de Hoje é o primeiro disco solo do Lirinha, alma do extinto Cordel do Fogo Encantado. Tive a oportunidade de vê-los ao vivo em Belo Horizonte em 2002 e só me vem uma coisa à memória: transe coletivo. Não era uma banda, eram feiticeiros. 

Mas não ouça Lira esperando cordel... Mais maduro, mais dor, mais guitarras, menos percussões, mais psicodelia... Tem a produção e bateria do Pupillo (Nação Zumbi) e teclados do Bactéria (Mundo Livre S.A.). Só isso já merece atenção. Lira ainda tem a participação superespecial do Otto, Ângela Ro Ro, Lula Cortês e Fernando Catatau.

Vamo logo para algumas faixas. Fui apresentado à excelente "Ela vai dançar", que me arrebatou com força. Me fez pensar nas inúmeras festas dançantes de um homem só que já promovi em casa, provavelmente em alguma quarta-feira.

"Noite fria", um chorinho com cavaquinho, trompete cortante, e um trio de vozes femininas. Uma viagem pelo mundo, preso ao mesmo amor, à mesma melancolia. "Valete" traz a voz de Ângela Roro e Otto, excelente música, excelente letra e arranjos, distorcendo a guitarra acentuando a dor da poesia.

Veja o lindo clipe em animação de "Ela vai dançar" e, depois mergulhe no Disco de Hoje.



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sábado, 16 de maio de 2015

Dia 70: 2001 - Perpetual Emotion (Flora Purim)


O Disco de Hoje celebra a vida, o amor e a paz. Traz novamente meu casal musical favorito, Flora e Airto, neste disco em um quarteto com Christian Jacob (piano) e Trey Henri (baixo), acústico, sem sintetizadores, limpo. Airto na bateria, uma coisa de louco.

A música que mais me toca  neste disco "Flora e Airto", e é cheia de significados na minha vida. Em outro disco da dupla (Humble People - 1985) esta música se chamava "New Flora": "(...) você chegou, trazendo tanto amor, que agora nunca mais eu vou chorar..." 

"Crystal Silence", que apareceu aqui no Return to Forever, tem aqui uma versão piano, voz e percursão, mais melancólica, mais muito boa. "Escape" é o tipo de de jazz clássico que eu adoro, voz feminina, bateria toda quebrada...

Temos ainda as brasileiríssimas "Saudade" e "Carinhoso", do Pixinguinha. A lindíssima "Journey to Eden" e a excelente masturbação musical de "Airto's Jazz Dance". 

Escuta aí no tube "New Flora", e obtenha O Disco de Hoje.



sexta-feira, 15 de maio de 2015

Dia 69: 2006 - 11:11 (Tita Lima)


O Disco de Hoje traz mais uma da série das mocinhas paulistanas de canto fácil, suave e apaixonante. Este é o primeiro album solo da Tita Lima, com muitas composições suas e grandes parceiros como Apollo 9 e Cyro Bittencourt. Maravilhosamente arranjado e muito bem acompanhada, o que era de se esperar da filha do Liminha, ex mutantes e um dos produtores mais badalados do Brasil.

Temos algumas músicas que não são dela, como uma surpreendente releitura de "Dias de Janeiro" (Otto), que pouco se parece com a versão original, e que está belíssima.

Adoro o balanço de "Catatônica". Mas uma das que mais me encanta, em letra e arranjo, é a bossinha "Maremorso", bem como o jogo de palavras do título da música. 

"Traz um alívio" não alivia, machuca. "Podia até me equilibrar. Mas quanto mais subia, mas frio sentia. De novo tudo vira vício. Eu tava atrás do desapego, até você chegar."

O disco começa e termina em alto astral, com "A conta do Samba" no início, "Molho Ble" e uma versão animadíssima do "Essa moça tá diferente" do Chico fechando.

Dá uma olhada no clipe aí do youtube, ou adquira já O Disco de Hoje.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Dia 68: 2012 - Trabalhos Carnívoros (Gui Amabis)


O Disco de Hoje é um tanto melancólico e profundo. Gui Amabis apareceu aqui no Disco de Hoje no excelente disco Sonantes, junto com Céu, Dengue e Pupilo (do Nação Zumbi). Ele também é produtor e foi responsável por várias excelentes trilhas sonoras ("Bruna Surfistinha", "Senhor das armas", etc) e parece ter grande responsabilidade nas composições e arranjos dos dois primeiros discos da Céu, sua ex.

Este é um disco bem diferente do seu primeiro, que conta com um montão de participações (Ceu, Tulipa, Criolo, Tigana, Lucas Santanna) e que ele propriamente canta poucas músicas. "Trabalhos Carnívoros" é triste. Perguntado se esta tristeza está relacionada com a sua separação da cantora Céu, com quem foi casado, ele disse: "Não vou dizer que não. Todo mundo toca para extravasar alguma coisa. Acho estranho quando o cara fala faço música para mim. Mas as canções não falam diretamente sobre isso". Mas como bem disse o poetinha, "prá fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza". "Trabalhos Carnívoros" é um obra bela, muito bela. Separar-se da maravilhosa Céu deve ter sido triste, doloroso.

A primeira faixa, que dá nome ao disco, tem um arranjo de bateria aliado a uma guitarra suja, cello de Fernanda Monteiro e voz e poesia profundas, boa demais. "Um bom filme" também vale muito a pena: "o custo de todos os vícios, do forte ao mais agressivo, das coisas que a gente se lembra..."

Veja o clipe, ou ouça o disco completo no tubius. Melhor que isto, adquira logo O Disco de Hoje.




segunda-feira, 11 de maio de 2015

Dia 67: 1972 - Return to Forever (Chick Corea)


O Disco de Hoje é um dos melhores albuns de jazz de todos os tempos. E veja bem que já ouvi muitos e sou completamente apaixonado por Miles Davis. Atenção ao time: Chick Corea (pianos/fender), Stanley Clarke (baixo), Joe Farrel (sax e flautas) e meu casal musical favorito, Airto Moreira (bateria) e Flora Purim (vocal). A fusão desta moçada na efervescência psicodélica do começo dos anos 70 é de lavar e purificar a alma...

Ontem não acreditei quando notei que este ainda não tinha aparecido aqui no Disco de Hoje. Tinha certeza de que já havia colocado, mas quando fui indicá-lo para um amigo, não estava aqui... Houve uma divergência entre intenção e gesto...

Esta é a primeira formação da banda Return to Forever (RTF), que depois manteve o núcleo do Corea e Clarke, com a passagem de Al di Meola, Lenny White, Bill Connors e Jean Luc Ponty. Estes você não vai encontrar aqui no Disco de Hoje, mas pode dar uma olhada na timeline do Chick Corea.

O que dizer deste álbum maravilhoso? Apenas 4 músicas, sequenciais, indispensável ouvir do começo ao fim, ou corre o risco de perder o contexto. O ápice acontece na última música, que junta Sometime Ago e La Fiesta, que não consigo descrever além de uma explosão de sentidos. Ainda me arrepio em todas as vezes que escuto.

Ouça aí no tubios, ou veja o Chick tocando La Fiesta, infelizmente sem o Airto e a Flora, mas não deixe de adquirir O Disco de Hoje.



sexta-feira, 8 de maio de 2015

Dia 66: 1967 - Vinicius (Vinicius de Moraes)


O Disco de Hoje é impróprio para menores de 16 anos.

Ouvindo a maravilhosa Céu com o lendário Herbie Hancock tocando "Tempo de Amor" me lembrei que fazia tempo que não ouvia o grande poeta Vinicius de Moraes. O Disco de Hoje contém algumas clássicas do "poetinha" e é uma compilação de algumas gravações.

Revendo e repensando, vejo que o Vinicius que foi um dos grandes responsáveis pela minha (de)formação amorosa/afetiva. Aos 13 anos de idade, devorei com avidez quase toda a obra dele e levei a sério o "a gente pega, a gente entrega, a gente quer morrer/ ninguém tem nada de bom sem sofrer", de "Formosa", última faixa deste disco. Certamente, é conteúdo completamente inapropriado para um pré-adolescente.

O Disco de Hoje começa com a clássica "Berimbau", exaustivamente re-gravada por um montão de gente. Mas não é aí que eu quero chegar... Quero chamar atenção para o "Soneto da mulher ideal", incrustado em "Samba da Benção", uma das coisas mais canalhas e machistas que já ouvi, mas, mesmo assim, lindo: uma mulher "tem que ter qualquer coisa além da beleza, qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade (...) uma beleza, que vem da tristeza de se saber mulher, feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e para ser só perdão".

Neste álbum ainda temos a dilacerante "Samba em Prelúdio", num diálogo do Vinicius com a Odete Lara, se misturando, se completando, se confundindo, se fundindo, numa dor ascendente, aliviada com a conclusão definitiva: "sem você meu amor eu não sou ninguém". Saudades... Dizem que é uma palavra/sentimento exclusivamente brasileiro, sem tradução, mas explicado perfeitamente neste poema.

Veja o Herbie Hancock e Céu aí no tubius ou abaixe já O Disco de Hoje.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Dia 65: 1997 - Por onde andará Stephen Fry? (Zeca Baleiro)


O Disco de Hoje reflete um estado de espírito. Eu "ando tão a flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar...", que resolvi postar o primeiro disco do Zeca Baleiro. "Por onde andará Stephen Fry?" apresenta "Flor da pele", que emenda numa versão lindíssima de "Vapor Barato", com a participação suave da Gal, que foi quem primeiro apresentou esta obra-prima de Jards Macalé e Wally Salomão ao mundo, em 1971.

Começa com o "Heavy Metal do Senhor", um divertido rock, que talvez não chegue a ser heavy metal. Adoro "Skap", que começa com Shakespeare ("Pois toda esta beleza que te veste, vem do meu coração que é seu espelho") e segue na belezura pura. 

Temos ainda direito a um xotezinho ótimo de se dançar em "Essas emoções" (Donato Alves) e a excelente "Salão de Beleza" que ensina que "há menos beleza no salão de beleza/ a sua beleza é bem maior que qualquer beleza de qualquer salão", uma lição urgente no "mundo velho e decadente que ainda não aprendeu a admirar a verdadeira beleza".

Prá fechar o Disco de Hoje, um reggaezinho dengoso chamado "Dodói".

Dá uma olhadinha aí do Zeca e da Gal cantando "Vapor Barato" ou adquira já O Disco de Hoje.