quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Dia 90: 2014 - Perotá Chingó (Perotá Chingó)


Muito grato por ter sido apresentado ao Disco de Hoje, simples, bem feito, delicioso e cheio de amor, tipo almoço da vovó. Perotá Chingó nasceu de um encontro no mágico Cabo Polônio, um pequeno pueblo isolado por um extenso campo de dunas na costa do Uruguai. Lindo farol, lobos marinhos, pequenas casas (des)organizadas num formato quase circular semelhante ao de tribos indígenas.

Parece que o violão (Diego Cotelo) e a percussão (Martin Dacosta) tocam de forma cuidadosa, para complementarem suavemente as vozes das meninas (Maju e Dolo), com o instrumental se sobrepondo às vozes raríssimas vezes. Ainda tem barulhinhos orgânicos, sininhos, grilos, chuva, passos...

Capturaram o espírito de Cabo Polônio e o semeiam em suas músicas. Este espírito é quase palpável em "La Complicidad (Soy el Verbo)", versão da música da banda porto-riquenha "Cultura Profética". Ouvi a versão original, e não senti nada demais. Na voz das meninas do Perotá, a música ganha um sopro de vida e sentimento profundo. Se você está apaixonado (como eu), vai querer ouvir e re-ouvir esta música até não cansar.
Soy el verbo que da acción a una buena conversación
(...)
La complicidad es tanta que nuestras vibraciones se complementan
Lo que tienes me hace falta y lo que tengo te hace ser mas completa
La afinidad es tanta
Miro a tus ojos y ya se lo que piensas
Te quiero porque eres tantas cositas bellas
Que me hacen creer que soy
Do André Abujamra, que já apareceu aqui no Disco de Hoje, temos a belíssima "Alma não tem cor", que ficou famosa na voz do Chico César (que tem que pintar aqui um dia desses). Tem ainda as belíssimas "Rie Chinito" e "Seres Extraños", de autoria deles. No finalzinho do disco, temos ainda uma injeção de energia positiva em "Inca Yuyo", um eletrônico acústico que te faz querer sair correndo na chuva.

Ali no tubius você pode sentir o clima "tocando com (e para) amigos", tem vários outros vídeos ali.. Ouça no ixpótifai, ou adquira imediatamente O Disco de Hoje.

 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Dia 89: 2016 - Höröyá





Höröyá: Autonomia, liberdade, dignidade em corpo, mente, espírito.
Que alma tem um povo de um passado sem glória?
O que pode este povo, privado de história?
Que corpo tem futuro, passado, presente, se a herança é a dor, chicote, corrente, na alma, na mente?
Servindo a ganância alheia, vivendo, morrendo, descrente, neste pedaço de terra, amontoado de gente…

Minoria luta, maioria consente…
Minoria luta, maioria consente…

Se de sangue e estupro somos feitos, nós então quem somos?
O bandeirante, o missionário ou o índio?
O capitão do navio negreiro, capanga, o capitão do mato, o escravocrata ou o quilombola, o capoeira?
O que explora e destrói, ou o que cultiva a terra?
Ou somos nós a terra?
Essa terra, nação diversa, sem eixo, nem rumo.

Dos filhos órfãos que aqui pariu, pátria amada!
De passado em diante tem futuro?
Que futuro tem?
Pra quem?

Que sejam eternos todas as pessoas, grupos e espaços que lutam e lutaram contra as restrições de liberdade, a opressão, a escravidão, o genocídio.
Todas as revoltas, fugas e submissões de resistência.
A todas que queimaram engenhos, que se recusaram às missões, que envenaram e subverteram ordens.
A todos que resistiram…

O Disco de Hoje está sem palavras. Download no site oficial, ouça no Spotify.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Dia 88: 2013 - Desaguou (André Sampaio & os AfroMandinga)



Passaram alguns meses desde que fui apresentado ao excelente Disco de Hoje. Segundo o site oficial, no álbum “Desaguou”, André Sampaio & Os AfroMandinga apresentam um encontro entre Rio de Janeiro, Mali, Burkina Faso, Lisboa, Moçambique e Olinda.

André Sampaio era o guitarrista da excelente banda de reggae brasileiro Ponto de Equilíbrio. Saiu da banda, andou viajando pela África Ocidental, juntando experiências e material para este disco.

Na primeira música, já diz ao que veio, com o soul suingado de "O que fazer?". A lindíssima "Desaguou" conta com a guitarra africana do Vieux Farka Touré, de Mali. Solos suaves de guitarra complementam a beleza da letra:
Olha a vida é como um rio, quando vê já desaguou
Nascemos água, morremos terra, assim dizia o avô
Na outra margem tão longíqua, eu encontrei quem sou
Tem uma versão da maravilhosa "Juízo Final", de Nelson Cavaquinho, eternizada por Clara Nunes, bem como a Zumbi, do Jorge Ben, com BNegão e um monte de gente boa.

Para o meu regozijo, temos até um belíssimo afrobeat em "Zimbawenin". Uma das minhas preferidas é "Rainha", que me fez pensar que nossas paixões, assim como nossas dores, são sempre maiores do que a dos outros.

Todos vocês guardam no peito
No peito uma paixão
Mas paixão igual a minha
Essa não existe não, não não
Tempo que não volta mais
Tempo bom, ah tempo bom
De que adianta olhar pra trás?
Tempo bom, ah tempo bom
Visite o site oficial, compre o disco, dá uma escutada ali no tubio, abaixe já O Disco de Hoje ou ouça no ixpótifai. Lembrando que todos os discos que já passaram por aqui estão em uma playlist do spotify, boa para botar no randômico (que nunca realmente o é) e descobrir boa música.